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creio que é melhor dizê-lo
com boas palavras.

terça-feira, 3 de abril de 2012

A Paixão de Cristo (fictício)


Aqui em Raul Soares houve uma época que se não houvesse encenação na Semana Santa, tinha briga. Era tradição. Tinha que ter a encenação pro povo ver, chorar e se arrepender dos pecados. Os fiéis vinham de tudo quanto é canto para prestar sua homenagem ao Filho de Deus, colocar suas orações em dia e contar alguns pecados pro padre Sérgio, quando possível. Naquele ano o vigário resolveu convidar para fazer o papel de Cristo o Geraldo (nome fictício), conhecido de todos não pela fé, mas pelo gosto à Providência, a pinguinha da terra.


Geraldo foi confabular com o amigo Zé Alex (também nome fictício):
- Óia, Zélex! O padre acho que achou ieu com cara de santo, viu?
-É não, Geraldo! É quiocê tem memo a cara de Cristo, cuessa barbicha e esse oio de peixe morto... Aí a encenação fica mais verdadeira, né? 


 Este, o papo dos dois amigos de golo no boteco conhecido como Boteco do Geraldo. Ensaio que é bom, o Geraldo perdeu todos. Mas padre Sérgio não desistia nunca do artista convidado e de uma possível alma arrependida. Queria porque queria o Geraldo e ponto final.

 - Zélex meu fi, vamo faze o seguinte: eu vô, mas ocê tem que í tamém.
- Í ondé, sô?
- Ieu vô sê Cristo, se ocê arranjá um papel tamém, uai!

Mesmo golados, conseguiram arrumar com o padre Sérgio que o Zé Alex fosse um dos soldados que acompanhariam o Filho de Deus na subida ao Monte das Oliveiras. Zé Alex tentou escapulir de tudo quanto é jeito, mas não deu. Teve que apoiar o amigo. Às quinze horas da sexta-feira santa, tá o povão se acotovelando na praça da matriz, onde providenciaram um “Monte das Oliveiras”. Os dois amigos, morrendo de vergonha, totalmente sóbrios - já que os botecos estavam fechados - não conseguem entender como entraram naquela encalacrada. Silêncio total na praça. Geraldo já está crucificado e o soldado Zé Alex ao pé da cruz, suando frio e com dó do companheiro, com vontade de pedir-lhe perdão até pelos maus pensamentos. Foi aí que Zé Alex lembrou que, por dentro da cueca, tinha uma garrafinha de pinga para dar coragem.

Deu um jeito de, sem que ninguém visse, escondendo atrás de um ou de outro, tomar um gole da cangebrina. Mas e o Geraldo, - pensou ele -, cumé que faço para dar uma força prele? Foi nessa hora que Jesus Cristo, aliás, Geraldo, pediu água:

 - Tenho sede!

O soldado Zé Alex não esperou segundo pedido. Pegou a esponja onde devia colocar água para representar o fel e despejou nela tudo o que restava na garrafinha e, com a lança, forçou-a contra a boca de Cristo. As beatas choravam, crianças arregalavam os olhos, pecadores se prostravam, etc. e tal, e o povão revoltado com a maldade do soldado, tamanha a realidade da encenação. Qual não foi a surpresa de todos quando toda a cidade ouviu pelo serviço de alto falante o Jesus, que parecia quase desfalecido, em alto brado:

 - Zélex, ô Zélex! Mais fel, Zélex!!!...

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